Com um sucesso de 18 meses seguidos em 2008-2009, Lyoto Machida se tornou a maior anomalia do MMA: o artista marcial "tradicional" que conseguiu se sobressair contra os competidores "práticos".
Contra Tito Ortiz (Karate X Wrestling), Machida defendeu as tentativas de queda e deu um knokdown com um golpe no corpo de Ortiz, pela primeira e única vez na carreira do wrestler. Contra Thiago Silva (Karate X Muay Thai), Machida controlou a agressividade de Silva até que escolheu levar a luta para o solo, conseguindo uma vitória por nocaute. Contra Rashad Evans, provou-se agressivo contra outro striker não ortodoxo e deixou Evans no chão como uma carcaça - de novo, pela primeira e única vez na trajetória de seu oponente.
Certamente, Machida não é mais um karateca puro, assim como Ortiz não é um wrestler puro e tampouco Silva um puro kickboxer; esses todos são "sotaques" na mesma linguagem da luta. Se Machida nunca tivesse se exposto à finalizações ou ao Muay Thai, ele nunca aplicaria as suas armas preferidas. Mas por ser um lutador de artes marcias mistas que pratica Karate - ao invés de ser um karateca que pratica artes marcias mistas - ele obteve sucesso: Oito vitórias seguidas no UFC, perseguindo o recorde de 11 de Anderson Silva.
Este é um momento crucial para Machida, mas não por causa de quaisquer estatísticas. Na revanche com Maurício Rua - o homem que chegou mais perto de compreendê-lo dentro do octógono - Machida pode provar que consegue corrigir os erros em seu estilo ou aceitar que não manterá a vantagem ou a surpresa por muito mais tempo. A resposta definirá o segundo ato de sua carreira.
Na noite de estreia nos EUA, o MMA sofreu a tensão provocada por técnicas desconhecidas que confundiram os lutadores, que tiveram que reavaliar o que pensavam saber sobre luta. Royce Gracie atropelou os adversários rapidamente, asfixiando-os um a um; então vieram os wrestlers; depois os kickboxers. Nenhum desses estilos manteve a inovação por muito tempo. Gracie - tão dominante no UFC 1 - já enfrentava dificuldades apenas um pouco mais de um ano depois, contra Dan Severn e Ken Shamrock. (Nos próximos 15 anos, ele finalizou apenas um oponente: um lutador de sumô que mal podia se mexer). Os wrestlers que se alimentaram de seu estilo foram mais tarde expostos por terem um cardio condicionado para apenas 3 minutos de luta, não 20. E assim continuou sendo.
A questão não é se o estilo de Machida será contornado; é quando e como.
Em outubro, Rua trabalhou com a lógica muito bem . Ele descobriu que Machida, tão focado em fugir de socos, negligencia o efeito dos lowkicks. E ao invés de recuar, permitindo a Machida um contra-golpe, ele ficou diante do karateca. Foi uma performance que impressionou praticamente a todos, exceto os três juízes ao lado do ringue.
Parece ser impossível que aqueles cinco rounds possam ter alguma influência física no que acontecerá nessa semana. Mas o dano no ego de Machida pode demorar a sarar: ele sabe que vencer Rua não será fácil, que Rua não está intimidado pelo cartel do oponente e que aquele estilo único - não importa o quanto pareça espetacular quando surgiu - tem um prazo de validade.
A comparação com o Gracie ou com os Wrestlers não pode ir muito longe. Diferente do lutadores de Jiu-Jítsu ou dos grapplers universitários dos anos 1990, Machida não permite um orgulho filosófico em sua arte que rejeita outra técnicas ou soluções. Mas mesmo que ele faça esses ajustes, enfrentará uma tarefa assombrosa: manter uma arte baseada no timing e na agilidade através da idade que avança.
Há estilos de luta que envelhecem bem e outras que não. O Wrestling pode sustentar longas carreiras porque mesmo uma tentativa de queda ou o clinch de um grappler mais lento é muitas vezes mais efetivo do que a defesa de um lutador bem preparado. Na luta agarrada, há tempo para se considerar o próximo movimento.
Strikers não têm esse luxo. Quando olhamos para a resistência de lutadores e homens que podem competir bem aos 40 anos, nomes como Couture, Coleman e Henderson aparecem. Mas não aparece um nome como o de Maurice Smith, um kickboxer que deu muito trabalho para os wrestlers. (Você pode esquecer a comparação com o clube dos quarentões do boxe: oito pontos de ataque demandam mais de sua reação do que apenas dois.) Uma das coisas mais fascinantes que poderemos testemunhar na carreira de Machida é como ele ajustará seu estilo para compensar a agilidade futura de seu corpo. É considerável ser esquivo aos 35, 37 ou 39 anos? As curtas carreiras de lutadores mais leves - que tem de lutar com a agilidade como pré-requisito - é uma indicação do que está a espera dele?
Muito será dito nessa semana se Rua conseguirá ou não fazer ajustes adicionais para desvendar o estilo de Machida. Se a primeira luta é uma indicação, é Machida que precisa se apressar para desvendar o estilo de Rua. Se ele puder fazer isso, ganhar indiscutivelmente do homem que lhe deu tanto trabalho, será outro episódio em sua célebre carreira. Se não puder, então o Karate terá o mesmo destino que cada novo método dinâmico de luta teve: se tornará familiar.